quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

CRIANDO UM NOVO HÁBITO ROTINEIRO



Não é difícil começar a fumar. Bastam alguns cigarros em determinadas horas do dia e pronto, quando menos percebemos já se tornou rotina. O tipo de rotina que incomoda se não seguida. É como fome, sede, sono, enfim necessidades biológicas as quais não podemos evitar. O mesmo acontece com o álcool, a sensação de estar alto torna-se habitual, a irritação é certeira ao tentar alterar a consciência sem a ajuda da bebida. A criação de novos hábitos prazerosos não é difícil, basta repetir algumas vezes todos os dias, e o ato passa a fazer parte de nossa rotina diária. Sim, porque somos seres viciados, carregamos manias durante toda existência.

Meu ponto aqui é a criação planejada de novos hábitos, por exemplo, decorar uma poesia ou uma música diferente a cada dia, como aconselhou Baudelaire. Ou ainda como Bukowski que impôs a si mesmo escrever dez páginas do que lhe vier à cabeça por dia. E quem sabe finalmente ler toda a maldita lista de livros que só faz aumentar a cada mês. Porque é tão difícil criar um novo hábito criativo e tão fácil adotar manias autodestrutivas como fumar e beber muito?

Alguns diriam que o ambiente social que nos cerca exerce grande influencia em nossos hábitos. Se convivermos diariamente com bêbados, seremos bêbados? Se convivermos com poetas, seriamos poetas? Não necessariamente. Acredito que o ambiente social exerça sim, influencia em nossos hábitos. Porém poderíamos frequentar um sanatório ou uma penitenciária diariamente sem nos tornar loucos, assassinos ou ladrões. A mera convivência não basta para a criação de um novo hábito.

Talvez a resposta esteja na milenar disciplina militar. A imposição implacável do eu para comigo, moldando a ferro e fogo o tipo de hábito que se queira criar. Claro que existem aqueles dias quando o ânimo praticamente não existe, ou pior, quando a criatividade desaparece por completo e sentimos que só o que existe é o vazio silencioso de nossa mente. Mas com tal método o hábito pode se tornar martírio, como ter de ir à escola na infância. A simples tentativa de criar o novo hábito pode surtir efeito inverso. E então o ato se torna traumático e dificilmente será assimilado outra vez.

Penso que a prática, e só a prática, pode desenvolver o tipo de hábito que eu gostaria de criar ou adotar. Sinceramente não acredito em dom e habilidades natas. Se alguém escreve bem, é porque praticou muito. O mesmo se aplica a quase todas as áreas de atividades humanas.

Fica aqui a água da minha roupa suja. Pratique, pratique e pratique um pouco mais... Mas lembrem-se, nunca será o bastante.  


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

FINALMENTE SOBRE MÚSICA


Venho, com esse primeiro post sobre música, trazer a luz uma banda que conheço há bastante tempo o Van Der Graaf Generator. Sim, é o mesmo nome daquela máquina que encontramos nas feiras de ciência da escola, que arrepia os fios de cabelo. O incrível é que podemos encontrar semelhanças entre os efeitos que a máquina e a banda causam-nos.



Dias atrás, enquanto ouvia uma lista antiga de canções no youtube, me peguei empolgadíssimo ao ouvir pela milésima vez A Plague of Lighthouse Keepers. Música do álbum Pawn Hearts, de 1971. A canção traz melancolia, desespero, loucura, solidão, morte e redenção mesclados em vinte e poucos minutos. Interessante mencionar que especialmente nessa música, não encontramos guitarras e contrabaixo, instrumentos marcantes no rock. Os quatro caras atacam apenas com dois teclados, dois saxofones e a bateria.

Não pretendo contar toda a trajetória da banda, mesmo porque, se você já conhece não vai querer ler outra vez. Se não conhece, peça auxílio ao santo Google e tenho certeza que ele te atenderá. O que de fato pretendo com o post é contribuir com o número absurdo de amantes brasileiros da boa música (como eu) que diz saber inglês, mas ao assistir um vídeo sem legenda, perde muita coisa. Por esse motivo, legendei em quatro partes A Plague of Lighthouse Keepers (aqui), uma das minhas favoritas. O vídeo traz a banda afinadíssima, em um cenário com velas e Peter Hammill regado a vinho lendo a letra. 

Hammill (vocal, letras, guitarra e líder da banda) sabia o que queria e conseguiu atingir, no meu ponto de vista, um alto nível de concepção musical. Esses ingleses, quando querem, sabem criar um bom rock. Uma música que não se limita a mero acompanhamento ou barulho de fundo para determinadas situações.

A música do Van Der Graaf causa sensações e estimula o pensamento do ouvinte levando-o a esquecer da mediocridade humana, por alguns minutos é claro. Se o objetivo de uma banda é fazer o ouvinte sentir algo durante e/ou após a audição, esses caras atingiram cerca de 70% do objetivo. Na realidade, acho que ninguém conseguiu o total. Arriscaria dizer que ainda não criaram a obra perfeita.    

Posso afirmar ainda, que o Van Der Graaf Generator não possui nem metade do reconhecimento que merece. Tantas bandas menores ainda são lembradas e aclamadas pela atual juventude que insiste em negar a qualidade da numerosa produção do rock progressivo, devo admitir que concordo em muitos casos. De fato, o rock progressivo é uma vertente de difícil digestão. Vou me aprofundar nessa discussão no futuro.

Penso que o VDGG, ainda terá seu merecido valor reconhecido em escala mais abrangente. Fica aqui a indicação, ouça tudo que encontrar do Van Der Graaf Generator, certamente não será perda de tempo.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Carne

Aos 16 anos de idade (1999), resolvi castigar o mundo com minhas palavras, escrevi.
Desta época sanguínea, uma poesia



Carne

Quando cheguei, emergindo lento
Do meu casulo sangrento
Para mim, tudo já estava preparado
Todas as bajulações haviam sido planejadas

Em labirinto infame
Um denso ar negro me envolve as ideias
Lembro-me dos dias aleatórios
Dádivas de coincidência inerte, causando sequelas no nada

A carne ainda exala aquele cheiro de desconfiança
Aromas repugnantes rebentam lacrimejar em olhos selvagens
Quantas lágrimas misturadas a lama,
Que até os tornozelos me cobria?  

As éguas mortas. Quanto fedor
Horror! O horror me corrói
Meus grandes olhos. Pedras vivas pelo desgaste
Se fecham, ao assistir a queda de carcaças vazias recheada de vermes

Na profunda escuridão, a dor me tortura
Meus joelhos, a lama se rendem
Lama eterna e vazia de formas
Onde foi que deixei minha carne carcaça?

Vejo o líquido viçoso
Onde se alimentam lentamente todos os vermes
Que como veleiros prateados flutuam, naufragam
E entram em minha boca morta.  

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sem idéia, sem texto, sem leitores

Sempre me pergunto como se escreve bem? Mas a resposta nunca é satisfatoriamente direta e clara. Quando a pergunta ecoa, respostas para outras questões se fazem necessárias. Por exemplo, para quem estou escrevendo ou qual idéia quero passar através do texto?
Bom, posso afirmar que este texto é sobre escrever, disso não há dúvidas. Ao ler sobre como escrever bem, é impossível não se deparar com tais frases, “você precisa ler muito, ler de tudo”, concordo, mas não basta ler tudo se sua mente continua vazia. Uma boa idéia, quase sempre supera falta de vocabulário e técnicas lingüísticas, penso eu. Penso também que técnica e vocabulário ricos não garantem um bom texto. Após tanta redundância, acho que minha idéia ficou, no mínimo, clara.


Sem idéia, sem texto, sem leitores...
Leitores são a razão de se escrever algo. Qualquer texto, por mais medíocre que possa ser, precisa ser lido para ganhar vida, do contrario não passaria de marcas selvagens sem sentido deixadas por qualquer um em qualquer lugar, como este que hipnotizou seus olhos até aqui.