quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A linguagem dos cães


Paro para mais um trago antes de continuar por onde havia parado. Uma jornada cega rumo a total escuridão e para o nada.
Levo o copo aos lábios, minha mente me interroga. “Essa bebida traz em sua composição uma mistura fina de veneno e ácido”?
Saímos. O sol ardia em tudo, matando e criando sem piedade, sem consciência. Volto a andar, sentindo-me um pouco mais leve, penso sobre todas as bobagens que continuamente habitam minhas idéias, onde comer, dormir ou para que lado da estrada seguir.
Eu acho que podemos permanecer aqui por mais algum tempo. Minha cabeça se nega, com argumentos significantes e precisos. Uma dúvida pesada instala-se em mim. “O que eu faria se estivesse em meu lugar”?
O banco da praça, surrado pelo tempo, em frente a uma árvore sem atrativos, uma simples árvore. Descansei por algum tempo, olhando fixamente o nada que preenche este lugar.
Onde estou? Existe tal lugar que possa chamar de meu, para onde posso voltar se não tiver mais escolhas? “Não”.
Meu lugar nesse exato momento é o banco em frente à árvore que me protege da luz escaldante e refresca meu corpo. Qual será meu próximo passo? “Não sei. Não sinto vontade alguma”. Mas sabemos que não se pode viver na inércia. Poderíamos talvez buscar por uma mostra de filmes, ou alguém apresentando algo, qualquer exibição gratuita.
Ou quem sabe um trabalho por algumas horas. Poderíamos dormir em uma cama esta noite. “Cale-se, não há sentido em atos desesperados”. Silencio se fez presente por algum tempo.
Pessoas cruzavam entre si, em sentidos diversos, cada qual mergulhado em conversas internas consigo. A grande maioria composta por diálogos, ou monólogos sem grande valor. Coisas simples e corriqueiras, familiares, dinheiro e sexo.
Não posso mais permanecer em silencio, meu tempo se esgota a cada segundo. Preciso ocupar-me para que ocorra uma notória aceleração temporal.
 Posso encontrar a biblioteca da cidade e tentar receber um livro de caridade. “Ainda assim será um ato de extrema súplica, o que apenas irá revelar ao mundo o quanto somos patéticos”. Na realidade, não me importo com o que pensam de mim.
Eis que surge um cão. Olhos carregados de um contentamento sincero, a língua molhada pendendo como se sorrisse. Apoiou-se em meus joelhos com as patas dianteiras e me encarou. Desejei entender a linguagem dos cães.         

Nenhum comentário:

Postar um comentário